14/03/2009

Como os brasileiros contam o tempo (Max Gheringer)

Transcrição do comentário de Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 02/03/2009,
sobre como nós, brasileiros, contamos o tempo de maneira muito peculiar.
Áudio original disponível no site da CBN [link aqui].

Muitos executivos de outros países têm vindo trabalhar em empresas brasileiras e a maioria deles se depara com uma grande dificuldade, que é entender a maneira como nós contamos o tempo no Brasil.
Uma pergunta simples é: "Quanto vai demorar para o trabalho ficar pronto?" Uma resposta como "12 minutos" nem passaria pela cabeça de um brasileiro porque nós somos muito mais criativos do que isso. Portanto, a resposta mais usual é: depende.
E no Brasil, depende é uma medida quântica, porque envolve várias incógnitas, e todas elas, desfavoráveis. Em algumas situações, depende pode até significar imediatamente. Mas esse tipo de resultado, até hoje, só foi conseguido com cobaias, em testes de laboratório.
Outra resposta é já já. Para quem ouve, já já pode parecer uma medida de tempo mais rápida do que . Mas é o contrário! quer dizer agora. Já já quer dizer "assim que eu terminar o que estou fazendo, vou pensar a respeito".
E tem também o logo. Logo quer dizer que uma providência pode levar entre 5 minutos e centenas de anos. Por exemplo, "logo chegaremos à Marte".
Outra frase que confunde é na semana que vem. Como todas as semanas futuras cedo ou tarde virão, qualquer semana entre a próxima e a última do século 21 pode ser tecnicamente classificada como a semana que vem.
E tem também o um minutinho, que é um intervalo de tempo que nada tem a ver com 60 segundos e raramente leva menos que 20 minutos.
E, finalmente, há o veja bem e o com certeza. A diferença entre os dois é que o veja bem é um com certeza um pouco mais detalhado. Mas no fundo, as duas expressões querem dizer a mesma coisa, ou seja, depende.
Como se vê, nós não somos um povo muito complicado. Nós até que nos entendemos muito bem. Quem vem de fora é que não compreende que "amanhã sem falta" significa: "preciso de mais um dia para pensar numa boa desculpa".
Max Gehringer, para CBN.

1 comentários:

Anônimo disse...

De fato, somos muito criativos... na mesma proporção que displicentes!

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